domingo, 12 de julho de 2009

Desejo


Abrem-se as cortinas, começa o show.
Ando sem direção tentando encontrar o que nunca vi, mas que tenho em mente a sua beleza. Demora um pouco e lá está ela. Olhar distante, balançando vagarosamente o corpo pra um lado e pro outro, envolvida talvez pela música tocada. Me aproximo, sorrio e neste instante pareço acordá-la como se desperta alguém com um estalar de dedos num momento de hipnose. O arquear das sombrancelhas e o projetar do tronco pra frente acompanhado de uma inspiração profunda revela sua surpresa. Falo baixo ao pé do ouvido não pela intimidade e sim pela necessidade diante do alto volume do ambiente. Convido-a pra dançar. Mãos unidas, corpos próximos. Ela já não balança sozinha. Sinto o perfume e me delicio e isso me ajuda a acompanhar tudo a minha volta: a música, seu corpo, meus intintos. Colo o rosto no rosto, o coração acelera, já não há mais o que se falar mesmo porque as palavras não conseguem transmitir o que passa no momento, saem sem sentidos, sem graça. Aliás, na verdade transmitem perfeitamente o momento: um impulso, uma vontade inexplicável. Com a força incontrolável de um vômito (e com toda a poesia que a palavra não permite) a vontade vence. Aproximo meus lábios dos seus, ainda desajeitados diante de tanto desejo. Aperto com força seu corpo no meu, as mãos me parecem desobedientes e como se tivessem vontades próprias saem querendo explorá-la totalmente. A música já não toca, ou parece não mudar, na verdade não importa. O corpo vai se acostumando e lentamente vou tomando conta dos meus movimentos. Seu corpo treme. As pernas não apresentam firmeza e sinto toda sua leveza através de meus braços, envoltos na sua cintura. A noção vem chegando aos poucos e nos alerta onde estamos. A vontade é de ir fisicamente pra onde estávamos mentalmente, espiritualmente, instintivamente. Qualquer idéia agora parece excelente idéia, mas que também são loucas idéias. Completamente envolvidos pelo momento embarcamos em uma delas. O destino? Não sabemos. Os riscos? Não nos importamos. O prazer? Ah... este é demais.
Fecham-se as cortinas.

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